quinta-feira, 11 de abril de 2013

LITERATURA E HISTÓRIA



Gil Vicente: Humanismo e o nascimento do teatro em Portugal

Pode-se dizer que, em boa parte, o teatrólogo e ator português Gil Vicente é fruto de uma época. Criou o que se convencionou chamar de teatro vicentino, caracterizado pelo poder da sátira. Sua biografia repleta de incertezas se dá aproximadamente entre 1465 e 1536, no contexto do que se convencionou chamar de Humanismo português.
É um período iniciado em 1418, quando D. Duarte nomeia Fernão Lopes como guardador da Torre do Tombo, o arquivo central do Estado Português desde a Idade Média, e termina quando Sá de Miranda retorna da Itália, em 1527, trazendo para Portugal a cultura clássica.
O Humanismo é um período de transição entre o fim da Idade Média e a Idade Moderna. Caracteriza-se pelo crescimento das cidades e o enfraquecimento do feudalismo. Com a perda de poder dos senhores de terras, os reis se aliam aos burgueses, principalmente comerciantes, passando a dividir com a Igreja o poder político.
Uma consequência direta, na área cultural é a criação de bibliotecas fora dos conventos. Os direitos ligados à individualidade também são valorizados. Começa a se abandonar o teocentrismo em busca de valores relacionados às próprias possibilidades de desenvolvimento, mas sem abandonar totalmente o temor a Deus.
Gil Vicente cresce nesse universo. Escreveu autos, comédias e farsas, em castelhano e em português. São conhecidas 44 peças, 17 em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues. Destacam-se dois gêneros:
a) os autos, com a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã; e
b) as farsas, peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano.
Ambos são plenos de críticas à sociedade.
Entre os autos, a Trilogia das Barcas (Barca do Inferno, 1517; Barca do Purgatório, 1518; e Barca da Glória, 1519) reúne peças de moralidade, que constituem uma alegoria dos vícios humanos; e o Auto da Alma, de 1518, encena a transitoriedade do homem na vida terrena e os seus conflitos entre o bem e o mal. As farsas, como Quem Tem Farelos?, 1515; Mofina Mendes, 1515, e A Farsa de Inês Pereira, 1523, realizam quadros populares de força moral e simbólica, num tom cômico mais contundente.
O ponto mais forte de Gil Vicente está na criação de tipos humanos como o velho apaixonado, a alcoviteira, a velha beata, o escudeiro fanfarrão, o médico incompetente, o judeu ganancioso, o fidalgo decadente, a mulher adúltera e o padre corrupto.
Escritas em versos, as peças estão repletas de trocadilhos e ditados populares. É importante ressaltar que a crítica do dramaturgo português é muito mais aos indivíduos corruptos do que à religião em si mesma, seus dogmas e hierarquias.
Nesse aspecto, Gil Vicente crê no teatro como uma forma de denunciar a degradação dos costumes, seja na Igreja, na família ou entre as classes profissionais como os médicos ou sapateiros. Acima de tudo, acredita no poder do riso como uma maneira de recolocar o homem no bom caminho, aquele que o afasta do vício em direção à virtude.
Oscar D'Ambrosio, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção Brasil).


GIL VICENTE (resumo)

Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo português. Não se sabe ao certo a data de seu nascimento, mas estima-se que tenha sido por volta do ano de 1466. Geralmente é considerado o pai do teatro português. Além de ter sido um grande representante do teatro, desempenhou também tarefas de ator, músico e encenador.
 Sua obra é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento. Gil faz uma reflexão sobre as regras e padrões presentes na hierarquia e na ordem social e na mudança dessa ordem. Foi o principal representante da literatura renascentista portuguesa, incorporando elementos populares na sua escrita.
Foi um homem ligado ao medievalismo e ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta também o homem livre.
O Autor critica em sua obra, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas. Faz crítica também aos membros que corrompem a Igreja.
Seus personagens ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas. Geralmente aparecem em sua obra através de sua ocupação ou traço social, sendo raramente chamados pelo nome.
Colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação dos costumes, como a imoralidade dos frades e a corrupção no seio da família.
A linguagem é o veículo que Gil melhor explora para conseguir efeitos cômicos ou poéticos. Suas peças, escritas sempre em versos incorporam trocadilhos, ditos populares e expressões típicas de cada classe social.
A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos muito simples.
Gil Vicente não segue a lei das três unidades básicas do teatro clássico. Em sua obra está presente o confronto entre o teocentrismo e o antropocentrismo.
Suas obras podem ser divididas em três fases diferentes:

1ª fase:
- Temas Religiosos
2ª fase:
- Problemas sociais decorrentes da expansão marítima
3ª fase:
- maturidade artística
Sua obra teatral pode ser didaticamente dividida em dois tipos:
Autos: peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico.
Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã
Farsas: são peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens extraídas do cotidiano.
Sua obra completa contém aproximadamente 44 peças.
Algumas obras:
- Auto do vaqueiro ou Auto da visitação (1502)
- Auto pastoril castelhano (1502)
- Auto da Fé (1510)
- O velho da horta (1512)
- Exortação da Guerra (1513)
- Comédia do viúvo (1514)
- Auto da Fama (1516)
- Cortes de Júpiter (1521)
- Farsa de Inês Pereira (1523)
- Farsa do templo de Apolo (1526)
- Tragicomédia pastoril da Serra da Estrela (1527)
- Farsa dos almocreves (1527)
- Auto da feira (1528)
 - Farsa do clérigo da Beira (1529)
 - Auto do triunfo do Inverno (1529)
- Romagem dos Agravados (1533)
- Auto da Cananea (1534)
- Floresta de Enganos (1536)

BIBLIOGRAFIA:
http://www.fontedosaber.com/portugues/o-teatro-de-gil-vicente.html

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