Em "A Letra Escarlate",
 Nathaniel Hawthorne mostra as desventuras de Hester Prynne na cidade de
 Boston, nos Estados Unidos do século XVII. Numa sociedade dominada 
essencialmente por puritanos, a protagonista da história sofre um 
julgamento. O crime: teve uma filha, mesmo sendo uma mulher sem marido. 
Pressionada várias vezes pelos magistrados, e por uma última vez, pelo 
seu pastor pessoal, Mr. Dimmesdale, ela se recusa a dizer o nome do pai 
da criança. 
Como
 pena para esse "pecado", Hester deveria usar, em sua roupa, uma letra 
"A" (de adultério) de cor vermelha. Nos primeiros dias, ela deveria 
permanecer sobre um tablado com sua filha aos braços por longas três 
horas e, em outro período do dia, ficaria na prisão. Tudo para que 
servisse de exemplo às pessoas que caíssem na tentação da carne. 
O
 autor nos mostra como o fanatismo religioso pode ser perigoso; quando 
os magistrados anunciam a sentença publicamente, algumas pessoas da 
cidade se revoltam, pois a consideram muito branda. Uma delas diz que se
 deveria queimar-lhe toda a fronte com a letra "A", um castigo até leve 
para quem costumava queimar e afogar "bruxas". Hester cria sua filha 
sozinha, sofrendo o desprezo daqueles que a consideravam pecadora. Vemos
 como gastavam-se tempo e energia perseguindo aqueles que não se 
comportavam de acordo com os padrões morais e comportamentais 
estabelecidos na época. Perseguiam, julgavam e discriminavam conforme 
suas crendices e o que achavam correto. Não tinham respeito pelo 
diferente. Esse lado do isolamento pelo qual tais pessoas passavam fica 
bem explícito na obra.
Um
 dia, na prisão, sua filha passou mal e foi-lhe chamado um médico 
chamado Roger Chillingworth, recém-chegado a Boston. Quando este adentra
 ao local, a mulher tem uma surpresa: tratava-se de seu ex-marido, que 
prometia vingança contra aquele por quem Hester se apaixonara. Ele pede à
 ex-mulher que mantenha esse segredo, pois não ficaria bem a ele ser 
apontado na cidade como um homem traído. Caso ela não mantivesse esse 
segredo, ele destruiria a vida daquele que ela amava perante a 
sociedade.
O
 tempo passa, Dimmesdale e Roger Chillingworth tornam-se amigos e vão 
morar na mesma casa. Isso acontece, pois a saúde do jovem pastor 
mostrou-se frágil, portanto, foi-lhe aconselhado a ficar perto do médico
 para que este zelasse por sua saúde.
Hawthorne
 descreve com primor os tipos; quando fala do ódio de Chillingworth, o 
leitor é capaz de percebê-lo. Em alguns momentos, sentimos "raiva" de 
Hester por não abandonar aquele local de sofrimento e partir para uma 
vida nova. Sofremos e sentimos seu isolamento, o modo como a maltratam 
nos traz à reflexão nossos preconceitos e discriminações do dia-a-dia. 
Todos nós temos uma Hester Prynne a quem julgamos, isolamos e 
maltratamos, apenas por ser diferente, por pensar diferente ou por agir 
diferente.
No
 decorrer da história, o (re)encontro entre Hester e o Reverendo 
Dimmesdale é inevitável. Após os acertos de uma fuga à "Romeu e 
Julieta", em que fariam o caminho oposto partindo rumo à Inglaterra, 
descobrem que Chillinworth faria a mesma viagem, estragando, dessa 
forma, seus planos.
A
 amargura do segredo tomava cada vez mais conta do coração do jovem 
pastor. Queria se livrar daquele sentimento como que num grito. Ele sobe
 ao tablado em que, outrora, sua amada e sua filha foram colocadas para 
que a primeira pagasse por seu pecado, leva as duas consigo e, para toda
 a cidade, confessa ter sido aquele que "pecou" com Hester. Talvez 
aliviado por tamanho peso, ou sentindo a decepção daquela gente, ele 
morre aos braços de sua amada Hester. Chillingworth morre pouco tempo 
depois, e mãe e filha partem à Inglaterra, pois o reverendo lhes havia 
deixado uma herança. Anos depois, Hester volta para passar seus últimos 
dias no lugar em que tudo havia acontecido.
Vemos
 como a preocupação em manter a "máscara social" numa sociedade pode ser
 maligna a uma pessoa. O afã em querer manter as aparências e as 
conseqüentes mentiras podem destruir vidas, futuros e sonhos. O final 
dado à história pelo autor é, de certa forma, uma punição àqueles que 
cometeram os atos questionáveis (Chillinworth e Dimmesdale) e um 
"prêmio" a quem sofreu com voz calada toda a trama (Hester e Pearl). 
Mais uma vez, isso nos remete à reflexão, pois, em nossas vidas, ao 
contrário da ficção, nem sempre aqueles que causam a destruição de 
outros têm o devido castigo. Cabe a nós agirmos conforme nossa 
consciência para que não sigamos caminhos semelhantes aos deles. Referência:
http://darini.blogspot.com.br
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