República Velha (1889 – 1930)
Os treze presidentes.
 Ao longo da República Velha, que é a denominação convencional para a 
história republicana que vai da proclamação (1889) até a ascensão de 
Getúlio Vargas em 1930, o Brasil conheceu uma seqüência de treze 
presidentes. O traço mais saliente dessa primeira fase republicana 
encontra-se no fato de que a política esteve inteiramente dominada pela 
oligarquia cafeeira, em cujo nome e interesse o poder foi exercido.
Desses
 treze presidentes, três foram vices que assumiram o poder: Floriano 
Peixoto, em virtude da renúncia de Deodoro da Fonseca; Nilo Peçanha, 
pela morte de Afonso Pena; e, finalmente, Delfim Moreira, pela morte de 
Rodrigues Alves, ocorrida logo após a sua reeleição.
Governo Provisório (1889-1891).
 Proclamada a República, na mesma noite de 15 de novembro de 1889 
formou-se o Governo Provisório, com o Marechal Deodoro como chefe de 
governo. Eis o primeiro ministério da República:
• Interior: Aristides da Silveira Lobo;
• Relações Exteriores: Quintino Bocaiúva; • Fazenda: Rui Barbosa;
• Guerra: tenente-coronel Benjamin Constant;
• Marinha: Eduardo Wandenkolk;
• Agricultura, Comércio e Obras Públicas: Demétrio Nunes Ribeiro;
• Justiça: Manuel Ferraz de Campos Sales.
Primeiras medidas.
 O Governo Provisório, assim formado, decretou o regime republicano e 
federalista e a transformação das antigas províncias em "estados" da 
federação. O Império do Brasil chamava-se, agora, com a República, 
Estados Unidos do Brasil - o seu nome oficial.
Em
 caráter de urgência, foram tomadas também as seguintes medidas: a 
"grande naturalização", que ofereceu a cidadania a todos os estrangeiros
 residentes; a separação entre Igreja e Estado e o fim do padroado; a 
instituição do casamento e do registro civil. Porém, dentre as várias 
medidas, destaca-se particularmente o "encalhamento", adotado por Rui 
Barbosa, então ministro da Fazenda.
O “encilhamento”.
 Na corrida de cavalos, a iminência da largada era indicada pelo seu 
encalhamento, isto é, pelo momento em que se apertavam com as cilhas 
(tiras de couro) as selas dos cavalos. É o instante em que as tensões 
transparecem no nervosismo das apostas. Por analogia, chamou-se 
"encilhamento" à politica de emissão de dinheiro em grande quantidade 
que redundou numa desenfreada especulação na Bolsa de Valores.
Para
 compreender por que o Governo Provisório decidiu emitir tanto 
papel-moeda, é preciso recordar que, durante a escravidão, os 
fazendeiros se encarregavam de fazer as compras para si e para seus 
escravos e agregados. E o mercado de consumo estava praticamente 
limitado a essas compras, de modo que o dinheiro era utilizado quase 
exclusivamente pelas pessoas ricas. Por essa razão, as emissões de moeda
 eram irregulares: emitia-se conforme a necessidade e sem muito 
critério.
A
 situação mudou com a abolição da escravatura e a grande imigração. Com o
 trabalho livre e assalariado, o dinheiro passou a ser utilizado por 
todos, ampliando o mercado de consumo.
Para
 atender à nova necessidade, o Governo Provisório adotou uma política 
emissionista em 17 de janeiro de 1890. O ministro da Fazenda, Rui 
Barbosa, dividiu o Brasil em quatro regiões, autorizando em cada uma 
delas um banco emissor. As quatro regiões autorizadas eram: Bahia, Rio 
de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. O objetivo da medida era o de
 cobrir as necessidades de pagamento dos assalariados - que aumentaram 
desde a abolição - e, além disso, expandir o crédito a fim de estimular a
 criação de novas empresas.
Todavia,
 a desenfreada política emissionista acarretou uma inflação* 
incontrolável, pois os "papéis pintados" não tinham como lastro outra 
coisa que não a garantia do governo. Por isso, o resultado foi muito 
diverso do esperado: em vez de estimular a economia a crescer, 
desencadeou uma onda especulativa. Os especuladores criaram projetos 
mirabolantes e irrealizáveis e, em seguida, lançaram as suas ações na 
Bolsa de Valores, onde eram vendidas a alto preço. Desse modo, algumas 
pessoas fizeram fortunas da noite para o dia, enquanto seus projetos 
permaneciam apenas no papel.
Em
 1891, depois de um ano de orgia especulativa, Rui Barbosa se deu conta 
do caráter irreal de sua medida e tentou remediá-la, buscando unificar 
as emissões no Banco da República dos Estados Unidos do Brasil. Mas a 
demissão coletiva do ministério naquele mesmo ano frustrou a sua 
tentativa.
A Constituição de 1891
Características.
 Logo após a proclamação da República, foi convocada uma Assembléia 
Constituinte para elaborar uma nova Constituição, promulgada em 24 de 
fevereiro de 1891.
A nova Constituição inspirou-se no modelo norte-americano, ao contrário da Constituição imperial, inspirada no modelo francês.
Segundo
 a Constituição de 1891, o nosso país estava dividido em vinte estados 
(antigas províncias) e um Distrito Federal (ex-município neutro). Cada 
estado era governado por um “presidente”. Declarava também que o Brasil 
era uma república representativa, federalista e presidencialista.
A Consolidação da República (1891-1894)
“Em vez de quatro poderes, como no Império, foram adotados três: Executivo, Legislativo e Judiciário”.
Executivo,
 exercido pelo presidente da República, eleito por voto direto, por 
quatro anos, com um vice-presidente, que assumiria a presidência no 
afastamento do titular, efetivando-se, sem nova eleição, no caso de 
afastamento definitivo depois de dois anos de exercício.
Legislativo,
 com duas casas temporárias Câmara dos Deputados e Senado Federal que, 
reunidos, formavam o Congresso Nacional (...).
Judiciário,
 com o Supremo Tribunal Federal, como órgão máximo, cuja instalação foi 
providenciada pelo Decreto n° 1, de 26 de fevereiro de 1891, que também 
dispôs sobre os funcionários da Justiça Federal. Os três poderes 
exercer-se-iam harmoniosa, mas independentemente.”
Civis e militares.
 A República foi obra, basicamente, dos partidos republicanos - 
notadamente o de São Paulo -, unidos aos militares de tendência 
positivista. Porém, tão logo o grande objetivo foi atingido, ocorreu a 
cisão entre os "republicanos históricos" e os militares. As divergências
 giraram em torno da questão federalista: os civis defendiam o 
federalismo e os         militares eram centralistas, portanto 
partidários de um poder central forte.
A eleição de Deodoro.
 Conforme ficara estabelecido, a Assembléia Constituinte, após a 
elaboração da nova Constituição, transformou-se em Congresso Nacional, 
encarregado de eleger o primeiro presidente da República. Para essa 
eleição apresentaram-se duas chapas: a primeira era encabeçada por 
Deodoro da Fonseca para presidente e o almirante Eduardo Wandenkolk para
 vice, a segunda era constituída por Prudente de Morais para presidente e
 o marechal Floriano Peixoto para vice.
A
 eleição realizou-se em meio a tensões muito grandes entre militares e 
civis, pois o Congresso Nacional era francamente contrário a Deodoro. Em
 primeiro lugar, porque este ambicionava fortalecer o seu poder, 
chegando mesmo a se aproximar de monarquistas confessos, como o barão de
 Lucena, a quem convidou para formar o segundo ministério no Governo 
Provisório, após a renúncia coletiva do primeiro. Em segundo, devido à 
impopularidade de e ao desgaste de Deodoro, motivados pelas crises 
desencadeadas pelo "encilhamento", pelas quais, junto com Rui Barbosa, 
era direta mente responsável.
Prudente
 de Morais tinha a maioria. Teoricamente seria eleito. Contudo, os 
militares ligados a Deodoro fizeram ameaças, pressionando o Congresso a 
elegê-lo. E foi o que aconteceu, embora por uma pequena margem de votos.
 O vice de Deodoro, entretanto, foi derrotado por ampla diferença por 
Floriano Peixoto.
A renúncia de Deodoro.
 Deodoro, finalmente eleito presidente pelo Congresso, não conseguiu 
governar com este último. Permanentemente hostilizado pelo Congresso, 
buscou o apoio dos governos dos estados. Na oposição estavam o mais 
poderoso dos estados - São Paulo - e o mais influente dos partidos - o 
PRP (Partido Republicano Paulista).
Em
 3 de novembro de 1891, a luta chegou ao auge. Sem levar em conta a 
proibição constitucional, Deodoro fechou o Congresso e decretou o estado
 de sítio, a fim de neutralizar qualquer reação e tentar reformar a 
Constituição, no sentido de conferir mais poderes ao Executivo.
Porém,
 o golpe fracassou. As oposições - tanto civis como ' 'tares - cresceram
 e culminaram com a rebelião do contra-almirante Custódio de Melo, que 
ameaçou bombardear o Rio de Janeiro com os navios sob seu comando. 
Deodoro renunciou, assumindo em seu lugar Floriano Peixoto.
Floriano Peixoto (1891-1894).
 A ascensão de Floriano foi considerada como o retorno à legalidade. As 
Forças Armadas - Exército e Marinha - e o Partido Republicano Paulista 
apoiaram o novo governo. Os primeiros atos de Floriano foram: a anulação
 do decreto que dissolveu o Congresso; a derrubada dos governos 
estaduais que haviam apoiado Deodoro; o controle da especulação 
financeira e da especulação com gêneros alimentícios, através de seu 
tabelamento. Tais medidas desencadearam, imediatamente, violentas 
reações contra Floriano. Para agravar ainda mais a situação, a esperada 
volta à legalidade não aconteceu.
De
 fato, para muitos, era preciso convocar rapidamente uma nova eleição 
presidencial, conforme estabelecia o artigo 42 da Constituição, no qual 
se lia:
Art.
 42 - Se, no caso de vaga, por qualquer causa, da presidência ou 
vice-presidência, não houverem ainda decorrido dois anos do período 
presidencial, proceder-se-á à nova eleição.
Floriano
 não convocou nova eleição e permaneceu no firme propósito de concluir o
 mandato do presidente renunciante. A alegação de Floriano era de que a 
lei só se aplicava aos presidentes eleitos diretamente pelo povo. Ora, 
como a eleição do primeiro presidente fora indireta, feita pelo 
Congresso, Floriano simplesmente ignorou a lei.
O manifesto dos treze generais.
 Contra as pretensões de Floriano, treze oficiais (generais e 
almirantes) lançaram um manifesto em abril de 1892, exigindo a imediata 
realização das eleições presidenciais, como mandava a Constituição. A 
reação de Floriano foi simples: afastou os oficiais da ativa, 
reformando-os.
A revolta da Armada.
 Essa inabalável firmeza de Floriano frustrou os sonhos do 
contra-almirante Custódio de Melo, que ambicionava a presidência. 
Levadas por razões de lealdade pessoal, as Forças Armadas se dividiram. 
Custódio de Melo liderou a revolta da Armada estacionada na baía de 
Guanabara (1893). Essa rebelião foi imediatamente apoiada pelo 
contra-almirante Saldanha da Gama, diretor da Escola Naval, conhecido 
por sua posição monarquista.
A revolução federalista.
 No Rio Grande do Sul, desde 1892, uma grave dissensão política 
conduzira o Partido Republicano Gaúcho e o Federalista ao confronto 
armado. Os partidários do primeiro, conhecidos como "picapaus", eram 
apoiados por Floriano, e os do segundo, chamados de "maragatos", 
aderiram à rebelião de Custódio de Melo.
Floriano, o Marechal de Ferro.
 Contra as rebeliões armadas, Floriano agiu energicamente, graças ao 
apoio do Exército e do PRP (Partido Republicano Paulista), o que lhe 
valeu a alcunha de Marechal de Ferro. Retomando o controle da situação 
ao reprimir as revoltas, Floriano aplainou o caminho para a ascensão dos
 civis.
A "Política dos Governadores" e a Constituição da República Oligárquica
A hegemonia dos cafeicultores.
 Vimos anteriormente que a República tornou-se possível, em grande 
parte, graças à aliança entre militares e fazendeiros de café. Esses 
dois grupos tinham, entretanto, dois projetos distintos em relação à 
forma de organização do novo regime: os primeiros eram centralistas e os
 segundos, federalistas. Os militares não eram suficientemente poderosos
 para impor o seu projeto nem contavam com aliados que pudessem lhes dar
 o poder de que precisavam.
Os
 cafeicultores, ao contrário, contavam com um amplo arco de aliados 
potenciais e compunham, economicamente, o setor mais poderoso da 
sociedade. A partir de Prudente de Morais, que, em 1894, veio a suceder 
Floriano, o poder passou definitivamente para esses grandes fazendeiros.
 Mas foi com Campos Sales (189& 1902) que uma fórmula política 
duradoura de dominação foi finalmente elaborada: a "política dos 
governadores”.
A "política dos governadores".
 Criada por Campos Sales (1898-1902), a "política dos governadores" 
consistia no seguinte: o presidente da República apoiava, com todos os 
meios ao seu alcance, os governadores estaduais e seus aliados 
(oligarquia estadual dominante) e, em troca, os governadores garantiriam
 a eleição, para o Congresso, dos candidatos oficiais. Desse modo, o 
poder Legislativo, constituído por deputados e senadores aliados do 
presidente - poder Executivo -, aprovava as leis de seu interesse. 
Estava afastado assim o conflito entre os dois poderes.
Em
 cada estado existia, portanto, uma minoria (oligarquia) dominante, que,
 aliando-se ao governo federal, se perpetuava no poder. Existia também 
uma oligarquia que dominava o poder federal, representada pelos 
políticos paulistas e mineiros. Essa aliança entre São Paulo e Minas - 
que eram os estados mais poderosos -, cujos lideres políticos passaram a
 se revezar na presidência, ficou conhecida como a "política do café com
 leite".
A Comissão de Verificação.
 As peças para o funcionamento da "política dos governadores" foram, 
basicamente, a Comissão de Verificação e o coronelismo. As eleições na 
República Velha não eram, como hoje, garantidas por uma justiça 
eleitoral. A aceitação dos resultados de um pleito era feita pelo poder 
Legislativo, através da Comissão de Verificação. Essa comissão, formada 
por deputados, é que oficializava os resultados das eleições.  
O
 presidente da República podia, portanto, através do controle que tinha 
sobre a Comissão de Verificação, legalizar qualquer resultado que 
conviesse aos seus interesses, mesmo no caso de fraudes, que, aliás, não
 eram raras.
O coronelismo.
O título de "coronel", recebido ou comprado, era uma patente da Guarda Nacional, criada durante a Regência, como já vimos. Geralmente, o termo era utilizado para designar os fazendeiros ou comerciantes mais ricos da cidade e havia se espalhado por todos os municípios.
O título de "coronel", recebido ou comprado, era uma patente da Guarda Nacional, criada durante a Regência, como já vimos. Geralmente, o termo era utilizado para designar os fazendeiros ou comerciantes mais ricos da cidade e havia se espalhado por todos os municípios.
Durante
 o Segundo Reinado, os localismos haviam sido sufocados pela política 
centralizadora, mas eles renasceram às vésperas da República. Com a 
proclamação e a adoção do federalismo, os coronéis passaram a ser as 
figuras dominantes do cenário político dos municípios.
Em
 torno dos coronéis giravam o membros das oligarquias locais e 
regionais. O seu poder residia no controle que exerciam sobre os 
eleitores. Todos eles tinham o seu "curral" eleitoral, isto é, eleitores
 cativos que votavam sempre nos candidatos por eles indicados, em geral 
através de troca de favores fundados na relação de compadrio. Assim, os 
votos despejados nos candidatos dos coronéis ficaram conhecidos como 
"votos de cabresto”. Porém, quando a vontade dos coronéis não era 
atendida, eles a impunham com seus bandos armados - os jagunços -, que 
garantiam a eleição de seus candidatos pela violência.
A
 importância do coronel media-se, portanto, por sua capacidade de 
controlar o maior número de votos, dando-lhe prestígio fora de seu 
domínio local. Dessa forma, conseguia obter favores dos governantes 
estaduais ou federais, o que, por sua vez, lhe dava condições para 
preservar o seu domínio.
O Crescimento do Mercado Interno
O mercado consumidor.
 Na última década do século XIX, o mercado de consumo se expandiu e se 
transformou estruturalmente devido à implantação do trabalho livre.
Conforme
 já mencionamos, na época da escravidão, os senhores concentravam o 
poder de compra, já que eles adquiriam os produtos necessários não 
apenas para si e sua família, mas também para os escravos. Assim, antes 
da maciça imigração européia, a parte mais importante do mercado de 
consumo era representada quase exclusivamente pelos fazendeiros.
A
 implantação do trabalho livre emancipou não apenas os escravos, mas 
também os consumidores, pois a intermediação dos fazendeiros, embora não
 desaparecesse completamente, começou, gradativamente, a perder 
importância. Consumidores, com dinheiro na mão, decidiam por si mesmos o
 que e onde comprar. Com isso, o mercado de consumo se pulverizou. 
Conforme veremos adiante, esse crescimento e segmentação do mercado de 
consumo exerceu uma pressão poderosa no sentido da modernização da 
economia brasileira.
A tradição da monocultura.
 Entretanto, o principal setor da economia - a cafeicultura - continuava
 crescendo dentro de padrões coloniais. Na verdade, a cafeicultura não 
apenas precisava preservar o caráter colonial da economia brasileira, 
mas também ajudava a mantê-lo. Como no passado, a economia cafeeira 
estava inteiramente organizada para abastecer o mercado externo, no 
qual, por sua vez, adquiria os produtos manufaturados de que precisava.
Esse
 padrão econômico tinha como conseqüência o fraco desenvolvimento tanto 
da produção de produtos manufaturados, mesmo os de consumo corrente, 
quanto da agricultura de subsistência.
Com
 o crescimento do mercado de consumo que se seguiu à abolição, as 
importações aumentaram, pois até produtos alimentícios eram trazidos de 
fora.
O endividamento externo.
 As exportações, todavia, não cresceram na mesma proporção, de modo que,
 para financiar as importações, o governo começou a se endividar 
continuamente. Esses empréstimos eram contratados sobretudo na 
Inglaterra, que, assim, tornou-se a maior credora do Brasil. Enfim, 
chegou-se a um ponto em que as dívidas se acumularam a ponto de 
desencadear uma crise por falta de capacidade de o país saldar as suas 
dívidas externas.
O funding loan. Em
 1898, antes mesmo de Campos Sales tomar posse, o ministro da Fazenda, 
Joaquim Duarte Murtinho, foi à Inglaterra renegociar a dívida. Conhecido
 como funding loan (empréstimo de consolidação), o acordo financeiro 
negociado com os credores consistiu no seguinte: o Brasil substituiu o 
pagamento em dinheiro por pagamento em títulos dos juros dos empréstimos
 anteriores e um novo empréstimo lhe foi concedido para criar condições 
futuras de pagamento dos débitos.
O estímulo à industrialização.
 Diante de tal situação, o governo federal adotou uma política para 
desestimular as importações. Acontece que, com a República, a 
arrecadação dos impostos fora dividida do seguinte modo: os estados 
ficavam com os impostos sobre as exportações, e o governo federal com os
 impostos sobre as importações. Ora, desestimular as importações 
significaria diminuir as suas receitas. Por essa razão, o governo 
federal recorreu ao imposto de consumo, que já havia sido instituído, 
mas até então não tinha sido cobrado.
Observemos
 que a simples instituição do imposto de consumo indicava que o mercado 
de consumo já havia atingido dimensões significativas e revelava a 
expectativa do governo em relação ao seu crescimento. E isso 
testemunhava a importância já adquirida pelo mercado interno.
Devido
 aos problemas gerados pelo aumento do consumo, o governo federal foi 
obrigado a estimular a produção interna a fim de diminuir as 
importações. Esse problema não existiria se as exportações, 
principalmente do café, fossem suficientes para cobrir todos os gastos 
com as importações. Não era esse o caso. Entretanto, para que o modelo 
agroexportador fosse preservado, era necessário criar condições para o 
abastecimento através da produção nacional própria. Foi por esse motivo 
que a industrialização começou a ser estimulada no Brasil.
A Política de Valorização do Café
A organização da economia cafeeira.
 As fazendas de café estavam espalhadas pelo interior, distantes dos 
grandes centros urbanos onde a produção era vendida. Com as precárias 
condições de transporte, aliadas ao fato de que os fazendeiros 
administravam diretamente as suas propriedades, os cafeicultores 
acabaram delegando a terceiros (os chamados comissários) a colocação de 
sua produção no mercado.
Esses
 encarregados da negociação das safras nos grandes centros eram, de 
início, pessoas de confiança com a incumbência de realizar as operações 
no lugar do fazendeiro. Aos poucos, de simples encarregados, esses 
comissários começaram a concentrar em suas mãos as safras de vários 
fazendeiros, tornando-se importantes intermediários entre produtores e 
exportadores, em geral estrangeiros.
As
 casas comissárias que então se organizaram passaram a negociar em 
grande escala o café de várias procedências. Com o tempo, apareceu um 
novo intermediário: os ensacadores. Estes compravam o café das casas 
comissárias, classificavam e uniformizavam o produto, adaptando-o ao 
gosto dos consumidores estrangeiros e, finalmente, o revendiam aos 
exportadores.
Com
 a profissionalização dos comissários, estes começaram a atuar também 
como banqueiros dos cafeicultores, financiando a produção por conta da 
safra a ser colhida.
Por
 volta de 1896, esse esquema começou a mudar. Os exportadores 
(estrangeiros), com a finalidade de aumentar os seus lucros, passaram a
 procurar diretamente os fazendeiros para negociar a compra antecipada 
das safras. Com seus representantes percorrendo as fazendas para fechar 
negócio, essa nova relação entre produtores e exportadores indicava, na 
verdade, que o mercado brasileiro encontravase em fase de profunda 
transformação.
De
 fato, conforme o esquema até então vigente, os comissários não apenas 
intermediavam a venda das safras, como também intermediavam a compra dos
 fazendeiros nas grandes casas importadoras de produtos de consumo 
estrangeiros. O esquema, portanto, era o seguinte: fazendeiros - 
comissários - ensacadores ---c› exportadores/importadores comissários - 
fazendeiros.
A
 decisão dos exportadores em negociar a safra diretamente com os 
fazendeiros modificou também a forma de atuação dos importadores que, 
não dispondo mais do comissário que intermediava as compras para o 
fazendeiro, tiveram de espalhar agentes e representantes de vendas pelo
 interior. O mercado ficou mais segmentado mas, em compensação, mais 
livre.
A crise de superprodução.
 Contudo, desde 1895, a economia cafeeira não andava bem. Enquanto a 
produção do café crescia em ritmo acelerado, o mercado consumidor 
europeu e norte-americano não se expandia no mesmo ritmo. 
Conseqüentemente, sendo a oferta maior que a procura, o preço do café 
começou a despencar no mercado internacional, trazendo sérios riscos 
para os fazendeiros.
Nos
 primeiros dois anos do século XX, o Brasil havia produzido pouco mais 
de 1 milhão de sacas acima da capacidade de consumo do mercado 
internacional. Essa cifra saltou para mais de 4 milhões em 1906, 
alarmando a cafeicultura.
O Convênio de Taubaté (1906).
 Para solucionar o problema, os governadores de São Paulo, Minas Gerais e
 Rio de janeiro reuniam-se na cidade de Taubaté, no interior de São 
Paulo. Decidiu-se então que, a fim de evitar a queda de preço, os 
governos estaduais interessados deveriam contrair empréstimos no 
exterior para adquirir parte da produção que excedesse o consumo do 
mercado internacional. Dessa maneira, a oferta ficaria regulada e o 
preço poderia se manter. Teoricamente, o café estocado deveria ser 
liberado quando a produção, num dado ano, fosse insuficiente. Ao lado 
disso, decidiu-se desencorajar o plantio de novos cafezais mediante a 
cobrança de altos impostos. Estabelecia-se, assim, a primeira política 
de valorização do café.
O
 governo federal foi contra o acordo, mas a solução do Convênio de 
Taubaté acabou se impondo. De 1906 a 1910, quando terminou o acordo, 
perto de 8 500 000 sacas de café haviam sido retiradas de circulação.
O acordo não foi propriamente uma solução, mas um simples paliativo. E o futuro da economia cafeeira continuou incerto.
Referências :
http://tecciencia.ufba.br/rafha_arcanjoh

